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Petro e Preto

Petro era irmão de Preto, embora não fossem gêmeos pareciam univitelinos…

 

Ungidos de família negra, um era filho de Oxumarê, ouvindo eternamente um som de cachoeira nos ouvidos, dotado de uma criatividade maravilhosa acessando a sabedoria às raias da loucura…

Sua comunicação se tornava difícil, pois tudo se confundia um tanto com o roncador, sendo por isso, muitas vezes, guiado pelo irmão vivaz com ouvido absoluto…

Já o Preto, era filho de Oxaguiã, impetuoso, corajoso, combativo, romântico e sensual, que também apesar da luz, o orixá que traz a discórdia.

Ainda que confundidos com Ibeji, o orixá das crianças gêmeas que brincam, por vezes certas características os colocavam em maus lençóis, enevoados pela avidez.

Certa vez entrou pela aldeia um homem gritando que as águas iriam invadir, preocupando a todos, por tudo resolveram agir…

Cortaram troncos, reforçaram as casas, fizeram jangadas, vedaram as cercas para poderem resistir à intempérie que avizinhava, foram dormir, mas mantiveram-se alertas…

Preto, despachado e solícito, tomou as frentes de tudo, liderando a empreitada, visto que Petro assentou-se à uma pedra, sentiu e sentiu…

Ao longe, o ruído das águas alertou a Petro que começou a gritar…

– As águas estão vindo… as águas estão vindo…

Ao que Preto respondeu… – ele sempre ouve águas, só ouve águas, não levem tão a sério, estou aqui de alerta na frente da aldeia, quando chegarem as águas, vou avisar.

No entanto as águas chegaram pelos fundos…

Sorrateira e fria, acabou por sufocar as crianças, levando embora algumas, e com isso a paz daquele povo…

"Petro era irmão de Preto, embora não fossem gêmeos pareciam univitelinos..."

Aturdidos, Petro e Preto, permaneceram sentados e alertas, acometidos pela culpa e os anos passaram…

Um outro dia avizinhou e o homem voltou a gritar:

-Alerta, alerta!! Desta vez o sol vai queimar… cuidem de suas casas… De forma que não deu muito tempo, e o sapé fumegou, dando origem a umas fartas labaredas de fogo. Liderados por Petro dessa vez, todos correram para o rio à guisa de transportar muita água e assim acabar com o inferno muito mais difícil do que a outra ocasião, pois tudo tornara-se um emergente fardo.

Desesperados novamente os dois irmãos ajoelharam no meio e clamaram em uníssona voz grande:

O que não ouvimos? Por quê não somos ouvidos?

O que fazemos com a Geena?

De corações abraçados, pela primeira vez estavam juntos, unidos pelo som, e o estrondo retumbou no céu dando origem a uma tempestade de chuva nunca vista…

Ungidos pela fala e o coração, entreolhavam calidamente no fulcro do furacão testemunhando o estrondoso milagre, um disse:

Como é isso? Como fomos atendidos?

Fomos? Ou estamos atendendo? O arco-íris respondeu:

-Efetivamente não importa, é a verdade que faz acontecer…

"Como é isso? Como fomos atendidos? Fomos? Ou estamos atendendo? O arco-íris respondeu: -Efetivamente não importa, é a verdade que faz acontecer…"

Pavitra Shannkaar autor em autoconhecimento e espiritualidade

Sobre o Autor

Pavitra Shannkaar é autor e escritor em ética, espiritualidade e autoconhecimento, também é terapeuta transpessoal, cantor e compositor da banda Ungambikkula, além de ser presidente da Cooperativa Cultural e Artística Ungambikkula. Autor do livro "Raiz das Estrelas".

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