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A Passagem de Harturo

Harturo era um homem simples. Morava numa casa simples no meio da floresta, comia uma comida simples, pensamentos simples, uma vida simples.

Certa feita, ao acordar pela manhã, observou, ainda sentado em seu leito, que ao redor da cama, havia uma pequena formiga. Trabalhosamente, ela se entretinha com um pesado graveto à guisa de colaborar com seu formigueiro, para nutrir e proteger. Ele morava só e apesar de jovial, Harturo, já tinha alcançado uma certa maturidade, pois com o evento da tal formiga, passou a questionar-se sobre o propósito de sua vida, aliás, sobre o propósito da vida em si, visto que até mesmo o pequeno inseto, havia encontrado o seu o papel no mundo… isso o levou a buscar Deus.

Seguindo em sua simplicidade, observando na floresta que tudo é um, aprimorou a seguinte oração: – Querido Deus, Tu és Um, eu sou um!

"Por mais que tudo parecesse em seu lugar, Harturo sempre notava algo de inquietação em seu íntimo, contudo clamou por seu deus amigo Ganesha e perguntou. - O que me acontece? Por que ainda estou assim?"

Imagem retirada da internet.

Assim sendo, ao acordar pela manhã, a primeira coisa que fazia era orar: – Senhor, Tu és Um, eu sou um! De modo que ao passar mais um dia em busca de um propósito para a sua vida, a última coisa que fazia ao deitar era orar: – Senhor, Tu és Um, eu sou um!

Um tempo transcorreu, e Harturo mergulhado em pleno tédio, passou a desesperadamente orar por muitas vezes ao dia, na esperança de que um dia fosse ouvido pelo Pai Criador, dizia com um profundo sentir… – Senhor, Tu és Um, eu sou um! Angustiado pelo bosque, o pobre homem não sabia mais o que fazer. Buscando aprofundar ainda mais o seu vínculo com Deus, Harturo improvisou um rosário, escolheu uma pedra num recanto do rio, e passou a murmurar: – Senhor, Tu és Um, eu sou um! Senhor, Tu és Um, eu sou um! Senhor, Tu és Um, eu sou um! Senhor, Tu és Um, eu sou um! E seguiu, fervorosamente com sua ladainha por meses a fio.

Alguns anos passados, Harturo encontrava-se pela manhã em seu sadhana habitual, quando três sábios que ali se encontravam ouviram o seu murmúrio, resolveram intervir.

– Senhor, com sua licença, gostaríamos de orientá-lo no seu diálogo com Deus. Humilde e interessado, Harturo então recebeu sua primeira iniciação, de forma que os monges lhe ensinaram. – Agora repita conosco: OM GANGANAPATAYE NAMAHA! OM GANGANAPATAYE NAMAHA! OM GANGANAPATAYE NAMAHA! OM GANGANAPATAYE NAMAHA!

Entusiasmado, desta vez, o matuto seguiu fervorosamente nessa direção, pois havia encontrado um propósito para alcançar, até que um dia algo mágico aconteceu. Estava ele seguindo todas as regras de seu novo sadhana , quando de repente lhe apareceu a frente a nobre presença do deus Ganesha. Sua força e luz eram tão grandiosas que Harturo se viu mobilizado a curvar e o deus prosseguiu. – Desobstruirei os teus caminhos, agora segue para prosperar!!! Essa foi a benção recebida, e assim se fez.

Embora continuasse um homem simples em seu íntimo, Harturo tornou-se um novo homem. Casado, com filhos, próspero em seus negócios, ele viajava regularmente para a Índia, onde ele podia fortalecer a sua retidão, seu sadhana e contudo o seu propósito na vida, visto que tudo parecia dar muito certo.

Por mais que tudo parecesse em seu lugar, Harturo sempre notava algo de inquietação em seu íntimo, contudo clamou por seu deus amigo Ganesha e perguntou. – O que me acontece? Por que ainda estou assim? De forma que Ganesha lhe respondeu: – Isto é o que alcançaste de mim… Queres mais, busque mais.

"Busca-me entre as tuas mazelas, quando elas desembaraçarem, finalmente, estarei lá, sendo você!"

Assim, seguiu ele buscando mais, e depois mais, até que por sim, um dia encontrou Buda, e depois, Vishnu, e por sua vez, Shiva, sempre recebendo a mesma resposta ao final: – Isto é o que alcançaste de mim. Queres mais busque mais… certo que um dia deu-se de frente com ARDHANARSHWARA, o aspecto do deus Shiva que o é em si, metade fêmea metade macho, metade Shiva, metade Kali e esse então lhe disse: tu me encontras na lua negra!!!

Agora com muito medo, Harturo temia ter caído numa armadilha e ter que lidar com forças demoníacas mas não poderia parar ali, pois conhecia o provérbio: “Se estiver atravessando o inferno, não pare.”

Pesquisando mais a respeito para prosseguir, Harturo encontrou informações de que realmente havia um ritual de Shiva que acontece na lua negra, muniu-se de força e coragem, assim o fez.

Seguindo todos os preceitos do ritual quando de repentemente deparou-se nem mais e nem menos com o deus Abraxas. Ainda assustado com as formas bizarras desse deus, que é infinitamente bom e infinitamente mau, Harturo tomou novo fôlego e perguntou: O que acontece? Por que ainda estou assim? Depois de seguir com retidão todos os preceitos de uma boa conduta, depois de prestar adoração sincera a todos esses aspectos de Deus que me apareceram, por que me encontro aqui, lidando com forças titânicas dos deuses sinistros?

Como um estrondo hediondo, na voz grandiosa do Arcanjo Metatron, irrompeu-se como um arauto do Deus Verdadeiro: – ISTO É O QUE ALCANÇASTE DE MIM!!!

Em prantos, assim Harturo perguntou: – Mas o que faço? Como faço? Como encontro o Divino, finalmente, para ter paz? Ao que DEUS respondeu: – BUSCA-ME ENTRE AS TUAS MAZELAS, QUANDO ELAS DESEMBARAÇAREM, FINALMENTE, ESTAREI LÁ, SENDO VOCÊ!!!

Pavitra Shannkaar autor autoconhecimento e espiritualidade

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Pavitra Shannkaar autor em autoconhecimento e espiritualidade

Sobre o Autor

Pavitra Shannkaar é autor e escritor em ética, espiritualidade e autoconhecimento, também é terapeuta transpessoal, cantor e compositor da banda Ungambikkula, além de ser presidente da Cooperativa Cultural e Artística Ungambikkula. Autor do livro "Raiz das Estrelas".

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