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A Deusa Sedna, o Mito

Existem algumas versões do mito Sedna, principalmente depois de sua recente adoção pela astrologia. Algumas sobre cães, outras sobre a mulher esqueleto e muitas outras adaptadas e incertas.

Mas há uma clássica e principal versão, que conta a estória de uma jovem princesa que passou sua vida até então, recusando todos os pretendentes que lhe eram apresentados, sendo que por um motivo ou por outro nenhum lhe servia.

Envergonhado, seu pai já não sabia mais o que fazer com a tal passagem e tudo acabou sendo levado à situação limite de extrema tensão.

Certa vez, Sedna caminhando pela neve, deparou-se com um majestoso pássaro branco que para a surpresa de seu pai, apaixonou-se profundamente com todas as características de sua obstinação. Por mais que seu pai a alertasse, ela prosseguia inflexível ante a seus argumentos, pois o tal pássaro também era um príncipe em pleno grassamento de reinado e eles assim casaram.

Logo após as cerimônias, o preocupado pai então preparou o seu barco, a pretexto de conduzir sua difícil filha para o seu novo lar, seu novo reino; tão logo o fez. Exultante, a menina Sedna chegara ao seu fadado destino com grande expectativa de assumir as riquezas.

"Pelos tocos dos braços decepados, ainda o sangue sagrado desdobra-se em vida, dissipado nas águas, dele passa a brotar toda a vida oceânica. Focas, peixes, baleias, outros mais e por consequência toda a vida na Terra.⁣"

Texto por Pavitra Shannkaar

Radiante, a jovem princesa atracou na ilha a pretexto de abençoar e tomar posse de seu futuro reinado. Mas, qual não foi a sua decepção, ao discorrer por um vasto império de pedras e merdas.
 
Desesperada, voltou-se para o seu pai, a intuito de pedir socorro e retornar à sua antiga casa, visto que desta forma poderia voltar a escolher um pouco mais os seus pretendentes. Porém, tão logo posto em prática o novo plano, a guerra começou. Ofendidos com a discórdia, os pássaros revoltados puseram-se a atacar com toda fúria a frágil embarcação e a menina caiu.
 
Aflita, debatendo-se ao mar, ela então agarrou-se ao bote em apelo à sua salvação, mas os pássaros não paravam, em risco de tudo se tornar uma grande desgraça. Visto que ambos poderiam morrer, o descontrolado pai pegou o facão e decepou seus atracados dedos e a pobre menina afundou, esvaindo-se em sangue.
 
Ainda para a nossa surpresa, ela volta a abraçar o barco, dessa vez sem os dedos, mas os pássaros não pararam, transformando tudo em uma desvairada dança da morte; dessa vez sem dúvida, esse pai volta a decepar seus antebraços enquanto quase que silenciosamente, a menina acaba por submergir, corando em vermelho tinto toda a área afetada.
 
A embargo, algo ocorre por excelência. Pelos tocos dos braços decepados, ainda o sangue sagrado desdobra-se em vida, dissipado nas águas, dele passa a brotar toda a vida oceânica. Focas, peixes, baleias, outros mais e por consequência toda a vida na Terra.

"Pois somente com a devastação total de seu próprio poder ela consegue encontrar o seu caminho legítimo, sua função no todo, por onde a reparação há de vir e beneficiar a si e aos demais."

Sedna é um mito de criação do mundo para o povo inuit, ela é uma deidade sagrada daquela cultura, daquela nação, mais do que santa, ela é a criadora do mundo.

No entanto, é de suma riqueza destrincharmos as matizes dessas emoções. Vemos, do meio da violência, renascer um amor pela vida, que foi cuidadosamente alinhavado pelo sentimento de consternação; isso pode nos causar tamanha surpresa, ao vermos a menina Sedna imersa em tão grande e profunda dor, pela perda de seus membros, seu conforto, seu reinado, seu pai e seu príncipe. Pois somente com a devastação total de seu próprio poder ela consegue encontrar o seu caminho legítimo, sua função no todo, por onde a reparação há de vir e beneficiar a si e aos demais.

Ter em sua vida uma passagem atrelada a um mito como esse pode lhe causar um enorme sentimento de perdição. Mas, quando são respeitadas as passagens iniciáticas correspondentes à sua vida, um grandioso poderio criativo inegavelmente emergirá de suas profundezas, pois este é um mito de criação do mundo, por onde um novo mundo há de renovar para si.
Pavitra Shannkaar autor autoconhecimento e espiritualidade

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Pavitra Shannkaar autor em autoconhecimento e espiritualidade

Sobre o Autor

Pavitra Shannkaar é autor e escritor em ética, espiritualidade e autoconhecimento, também é terapeuta transpessoal, cantor e compositor da banda Ungambikkula, além de ser presidente da Cooperativa Cultural e Artística Ungambikkula. Autor do livro "Raiz das Estrelas".

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